(Foto da Chegada) |
O dia amanheceu cedo, para mim; 6 hras e estava a levantar o esqueleto da cama. Olho para o lado e nem piu. Tenho sempre este peso na consciência, saber que a vou deixar só, protagonizando o lado menos bom destas coisas. Mas, poderia ser de outro modo? Não pode, a não ser que ela também pedalasse, assim. Não pedala, fica em casa, novamente, com o coração nas mãos, porque ao virar na curva ou em plena reta, o azar pode estar escondido atrás de uma árvore ou de uma pedra ou de outra coisa qualquer.
Cinco minutos para as sete, já o sol se espreguiçava no lençol do céu e eu não vislumbro ninguém. Parece-me que o plano de concretizar um treino de 200 kms a pedalar vai ter de ser em modo solitário, e não aproveitando a companhia de outros malucos que, como eu, desejem fazer da bicicleta o meio de diversão durante longas horas. Mas não. Afinal, já estavam todos, ou quase, equipados a rigor, vestindo o "pirilampo" como as regras do randonneur o determina, assim como outras coisas. Um briefing introdutório e está feito, estamos prontos para andar. Entretanto, surpresa minha, algumas caras conhecidas entre os cerca de 10 participantes. Não estava à espera, mas uma certeza foi-se constatando ao longo do trajeto; ninguém "pode" participar num evento destes se não estiver preparado. Por outras palavras, não é para quem quer; é para quem pode e quer, que é bem diferente.
A volta confirmou-se muito generosa nas paisagens, As estradas escolhidas revelaram-se em muito bom estado. As terras de renome (Ponte de Lima, Monção, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, Valença, Caminha, Viana do Castelo...). Algumas subidas a lembrar uma prova de ciclismo. Aí, o pessoal marimbou-se para o conceito (ou talvez não) e cada um tentou de dar o seu melhor. Afinal, aquilo que eu poderia temer, isto é, que talvez pudesse ser uma seca, não se revelou, antes pelo contrário. Cada um vai no seu ritmo e fará pela vida. Todos decidimos que não iria ser totalmente assim, e esperámos sempre por toda a gente nos pontos de controlo,
que existiam por causa do brevet. E aqui vou confessar-vos alguns pormenores anteriores à "provação": procurei, como sempre faço em todos os eventos onde participo, regularizar a minha inscrição. Simplesmente, as exigências com a prova do seguro torna isso quase impossível para quem já está seguro como nós, triatletas e não só. É que é preciso uma declaração da companhia seguradora com os trâmites todos em que o seguro foi redigido, coberturas afins e etc. Ora, apesar de tentar junto da federação que me fornecessem uma coisa dessas, é impraticável. Resultado, como estava segurado, participei esquecendo o brevet e poupando 10€. Ninguém levou a mal e lá nos divertimos todos.
(Palácio da Brejoeira) |
Ao longo do trajeto, houve tempo para o dinamizador, cuja presença em vários outros BRM lhe dá a autoridade necessária, ir explicando o que realmente se passa a nível internacional com o "randonneurs". É impressionante; há "caramelos" que fazem a "coast to coast" dos EUA dormindo 4 horas por dia!!! Há distâncias de 1000 e muitos quilómetros em que pedalar toda a noite é o prato do dia. Quer dizer, não é pêra-doce. Não é algo que se possa menosprezar, e no seu ritmo, no ritmo de cada um, só vos digo que é muito, mas muito exigente, a fazer lembrar os ultra trails. Ah! pois é. Hoje, os 200kms foram um aperitivo. Realmente, o ser humano arranja cada forma de se pôr à prova!...
O convívio foi muito bom, pessoal à maneira. Bom, quem se mete nisto já está "formatado", digamos assim, e isso facilita imenso porque à partida a seleção faz-se, naturalmente. Em Valença, parámos para comer uma espécie de almoço. Aí, fiquei igualmente impressionado com a quantidade de pessoal que se faz à estrada para celebrar os "Caminhos de Santiago", btt. Chegados ao último ponto de controlo, em Caminha, faltavam-nos pouco mais de 50 kms. O vento iria ser nosso aliado e pouco mais à frente, quando ele estivesse bem por detrás, haveríamos de ciclar a mais de 50 kms/hra durante várias vezes.
E pronto! Finalmente em casa, num registo de 209 kms, 7hras e meia a ciclar, 3741 calorias gastas, 63% da capacidade máxima, média de 27,8 kms/hra, 128 de pulsação média e não digo a máxima porque não é possível, teria caído para o lado. A altimetria parece que terá sido um acumulado superior a 3000 mtrs. A seguir, banheira para "crio" e uma lasanha (quase) só para mim.
Companheiros, abraços triatléticos.
2 comentários:
wow 200km? Muito bom! Boa recuperação :D
É isso ai camarada João. Sempre em forma. Boa onda. Grande abraço.
Enviar um comentário