Caminho Francês de Santiago: Dia VI!

30/07/11




Jantar em Léon

Hoje acordámos mais tarde. Temos tempo. O El Corte Inglês só abre as portas às 10h locais. Antes, tempo para, calmamente, procurar a primeira refeição do dia. A noite havia sido mais tranquila que o normal, muito mais tranquila; nada de ressonâncias e o ambiente não se tinha sentido tão saturado. A razão tem a ver com o simples fato de apenas estarmos quatro pessoas a partilhar o mesmo espaço de dormida.
Este o dia mais "caliente"; finalmente começo o dia de manga curta. É novidade para mim, neste trajeto. 
hoje vamos ter de recuperar o tempo perdido. Na verdade, tivemos de abrir mão de meio dia e para quem pretender cumprir o caminho em oito dias, vai ter mesmo de dar ao pedal. Na realidade, nesta fase já não estávamos muito preocupados com calendários, apenas em não exagerar muito para além daquele plano inicial. O Óó já tinha saído há canos. O Carlos idem. Era a nossa vez, depois do Pajó e do Zé terem conseguido adquirir e montar o suporte, nem que para isso tivessem de ter virado o centro comercial do avesso à procura de ferramentas e com isso rejeitado uma oferta de trabalho para...mecânicos de bicicletas.
Léon tem má sinalização sobre o caminho de Santiago. Pena. Não custava nada uns poters ou placards nos postes ou sei lá onde. Mas, ao contrário do normal, esta cidade, carregada de história, confunde os peregrinos. Atinamos com a nacional correta, direção de Ponferrada, nosso próximo objetivo e por estrada, para acertar o relógio do pedal.
Chegou a minha vez de laborar. Assumo o comando do grupo e aí vamos nós, a caminho de Astorga para aí fazermos nova refeição, esta do almoço, debaixo de um sol radioso. O vento atrapalha por vezes, mas alguém nos demove? Isso é que era.
Almoçados, lá continuamos nós, num constante sobe e desce, mais sobe que desce, a caminho do destino esperado. Só que...passamos ao lado de um lugar mítico; a Cruz de Ferro! Não sei como foi, só sei que se nos escapou. Vamos ter de lá voltar, mas noutro ano, para atirar a pedra para o monte que os peregrinos vão construindo com esse gesto.
Antes de Ponferrada o Zé volta à carga para me convencer que será melhor separarmo-nos para a reserva atempada do albergue. Eu seguiria na frente e lá trataria das coisas em nome deles. Inicialmente resisto. Não gosto da ideia. Sei lá, acontece qualquer coisa e depois nem cá nem lá. Mas, dado que já anteriormente havia resistido a essa ideia, acedo para bem do clima do grupo. E lá vou eu, estrada fora e acima, até chegar a Ponferrada em hora de ponta e encontrar o lugar de descanso de final de dia. O problema é que não me deixam reservar camas. Portanto, terei de esperar pelos companheiros. Paciência. Enquanto espero, imaginem só quem reencontro. Claro, o Carlos, o Óó, e o puto de Valência, o Ruben. Sorrisos, conversa e lá chegam os caramelos. Muita gente de bicicleta, nesta altura e muito mais gente a pé, claro. Cada vez mais, porque à medida que nos aproximamos vamos acrescentando àqueles que começaram há muito, os outros que não querem/não pretendem empreitadas tão grandes. O ambiente é multinacional e multiidade e bom, francamente bom.
Quem me atende é um Uruguaio dos seus 70 anos que transpira simpatia por todos os lados. No final, haveriamos de dar um valente e sentido abraço. Mas, nada de ilusões. Este albergue parece os comandos da Amadora; alvorada às 6, toda a gente tem de estar na rua às 7h30' e o silêncio mais o apagão dar-se-á às 10 da noite. Assim foi. O aspeto mais negativo deste albergue é o enorme aglomerado de gente a dormir no mesmo canto. Ar saturado, muita ressonância, terrível. Bastante tempo após me ter deitado ainda suava como um cavalo. Por baixo de mim dormia uma simpática espanhola. Antes dela chegar, haviam-me destinado o beliche de cima. Perguntei porquê, se havia lugar em baixo. Depois de me explicarem, compreendia e tem toda a lógica; eu, ser mais ágil, deveria ficar em cima porque poderia aparexer alguém em muito menor condição que eu e assim ter acesso mais facilitado ao leito do descanso, nessa noite. Elementar, meu caro João.
O dia chegava ao fim depois de pedalarmos 115,29 kms , em 4h57'38''. Não foi mau de todo, ao fim e ao cabo.

Companheiros, próxima etapa está quase. É só dormir mais um bocadinho.

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